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Algumas questões sobre Autismo

1. Explique brevemente o que é e as causas do transtorno do espectro do autismo. É um distúrbio do neurodesenvolvimento de grande impacto e alto custo, acomete predominantemente meninos, inicia-se na primeira infância. O diagnóstico é baseado em critérios clínicos que envolvem déficits na comunicação e interação social, comportamentos repetitivos e interesses restritos. Abrange uma variabilidade clínica que engloba desde crianças com ausência de linguagem, retardo mental e comportamentos repetitivos, estereotipados, com autoagressão até crianças com linguagem formal, com vocabulário rico, inteligência normal ou acima da média e déficits sociais. Não existe ainda um marcador biológico, ou seja, não há uma causa determinada, conhecida. As evidências apontam para uma etiologia genética poligênica, com mais de 200 genes já identificados. Em cerca de 20% dos casos, há associação com uma síndrome genética conhecida, como síndrome do X-Frágil, por exemplo, ou com doença herdada geneticamente, como a esclerose tuberosa. Fatores de risco como uso de ácido valpróico na gestação, prematuridade, baixo peso, idade paterna e materna avançadas também são considerados.


2. Por que começamos a falar com tanta frequência sobre autismo?

O autismo foi inicialmente descrito no início da década de 40, vindo a ser considerado um transtorno do desenvolvimento melhor reconhecido na década de 80. Os primeiros relatos epidemiológicos apontam uma prevalência de 1:10000, ou seja, um quadro raro. Com a modificação dos critérios diagnósticos, uma atenção maior para os quadros comportamentais na primeira infância, maior conhecimento dos profissionais da saúde e educação e a veiculação do tema na comunidade científica, tem-se observado maior identificação do quadro, com uma frequência atual de cerca de 1%, praticamente um problema de saúde pública. Acredita-se que o que antes era identificado como retardo mental, hoje se inclui no espectro do autismo.


3. Quais os principais hábitos comportamentais dos autistas?

A depender do grau de funcionalidade, que pode ser leve, moderado e grave de acordo com a linguagem e cognição, os comportamentos denotam tendência a isolamento social, linguagem com entendimento literal, interesses restritos por temas inusitados (como planetas, mitologia grega, aviões, dinossauros, entre outros), adesão a regras e rotinas, comportamentos repetitivos com tendência a sistematização, desenvolvimento de habilidades savant ou hiperlexia em alguns casos, associação com hiperatividade, desatenção, ansiedade e epilepsia. Também são observadas alterações sensoriais como hiper ou hipossensibilidade auditiva ou visual, aversão tátil, desconforto com o toque, seletividade alimentar.


4. Aumentou consideravelmente a procura por acompanhamento infantil depois dessa febre que se instalou no país?

Não é exatamente uma febre que se instalou no país. No Brasil, tudo acontece tempos depois. Na verdade, não temos banco de dados com informações sobre prevalência ou frequência do autismo. Até o momento, existe apenas um estudo epidemiológico nacional que aponta uma frequência de autismo de 1:300, realizado em Atibaia - SP. A procura por diagnóstico e acompanhamentode crianças com queixas comportamentais é grande, na medida que a população cresce e a oferta de serviços médicos especializados é escassa. Há que se considerar também o grande número de crianças atendidas que não exibem distúrbios mentais ou neurológicos, mas sim, claros sinais de dificuldades de criação, com a terceirização da maternidade, falta de regras e limites e problemas de educação.


5. Autismo tem cura? Ou então, como funciona o tratamento do transtorno?

Não há cura conhecida para o autismo até o momento. Quanto mais precoce o diagnóstico, melhores as chances de minimizar os sintomas. Após o correto diagnóstico e a avaliação global e do nível de funcionalidade, o tratamento envolve uma equipe multidisciplinar especializada que tem como objetivo treino de habilidades sociais, cognitivas, de comunicação e linguagem, de autonomia e motoras, através de uma abordagem comportamental, de acordo com as potencialidades e dificuldades de cada criança. A equipe inclui minimamente médico (pediatra do desenvolvimento, neuropediatra ou psiquiatra infantil), psicólogo e fonoaudiólogo e, se possível, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, nutricionista, psicopedagoga, psicomotricista, musicoterapeuta, de acordo com as necessidades de cada caso. A família tem papel fundamental neste processo no sentido de compreender o funcionamento do seu filho e contribuir, através de estratégias de reforçamento, na extinção de comportamentos inadequados e melhora das habilidades. Da mesma forma, a escola deve estar preparada para receber e garantir o adequado atendimento a esta criança.


6. Com que idade é possível diagnosticar uma criança com autismo, já que, quando pequenas, muitas podem desenvolver hábitos suspeitos?

Para bons observadores, ao longo dos primeiros 24 a 36 meses (para alguns pais e pesquisadores até antes!) já é possível suspeitar e muitas vezes fechar o diagnóstico, considerando-se as alterações no desenvolvimento da linguagem e da orientação social, a maneira de brincar, os comportamentos repetitivos e a frequência dos mesmos, consubstanciado pelas escalas de rastreio utilizadas para corroborar o diagnóstico.


7. O autista pode frequentar uma escola de ensino regular? Ele precisa de um professor dois?

O acesso à educação é um direito de todos. O autista é considerado pessoa com deficiência por Lei e portanto tem direito não só à educação, mas o acesso à saúde, medicamentos, terapias, transporte público, etc. Crianças com autismo devem frequentar escola regular, com apoio educacional diferenciado de acordo com sua necessidade.


8. Dizem que os autistas têm seu próprio mundo, ou que são superinteligentes, que gostam de ficar sozinhos ou até mesmo, que não gostam de lidar com as pessoas. Em meio à essas muitas dúvidas é visível que a população precisa se educar para inserir o autista na sociedade, como você vê essa inclusão? Ainda há muito preconceito?

Apesar das muitas campanhas de conscientização pelo autismo, das ONGs que lutam pela causa, embora escassas e invariavelmente sem recursos, infelizmente há ainda aqueles que duvidam da existência deste quadro ou mesmo famílias que não aceitam o diagnóstico. A educação da sociedade para a inclusão é uma tarefa que deve começar desde cedo em casa e na escola.


9. Qual a dica que você dá para os pais que descobrem que seu filho é autista?

“Acreditar é o primeiro passo para toda conquista.”



Prof. Dra Cristina Maria Pozzi

Médica Neuropediatra

Curso de Medicina Univali

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